Ao iniciar estas linhas estou realizado e feliz, pergunto-me: Como eu um brasileiro que com tantas adversidades ao seu redor consegue sentir-se desta forma? Roubo, jogadas politicas, fome, descaso da saúde, educação mínima, falsas promessas entre outras mais situações fazem parte do nosso cotidiano. No entanto quando olho para o lado e vejo a minha princesa (que me perdoe a Cláudia), mas a princesa referida neste momento é aquela que com simples duas rodas faz com que o meu mundo fique acima de qualquer situação. Não que ela exerça uma força física / espiritual ou dominadora, mas é ela que me leva a lugares extraordinários, a devaneios interiores que difícil ficam de defini-los.
Às vezes penso em trocá-la, e simplesmente ela me faz sentir-me culpado; mas porquê a troca? Eu estou aqui, te levo para onde queres ir, te faço sonhar, te faço sorrir, ter faço empurrar, te faço chorar (sentimento nobre), te mostro que a vida é linda e muito curta, te mostro o quanto somos mesquinhos, te mostro que não precisamos de muita coisa para viver, te mostro o seu caminho interior, te mostro este baita mundão maravilhoso e que estamos destruindo e não o aproveitando.
Pedaleiros, este caráter introdutório acima, é um relato humilde na forma de homenagear não a bicicleta como um ser ou um material metálico, mas sim aqueles que como eu, através da mesma conseguiu transpor para um lado mais humano. A definição de “Andarilho” em minha cidade é designada para aqueles (a qual estou incluído) que não possuem alguma bike de ponta ou extraordinária; não sou contra quem possui as máquinas maravilhosas, simplesmente respeito o desejo e as condições de cada um.
Quando falo que vou pedalar, familiares e amigos comentam: “Lá vem ele de novo, o que será que este louco está preparando desta vez?” Todo mundo de cabelo em pé. Neste momento não me entrego e lembro-me do antigo conjunto musical “Os Mutantes”, em sua música Balada de um Louco, que na voz da nossa Rita Lee dizia:
Sim! Sou muito louco
Não vou me curar
Já não sou o único
Que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz!
E não é feliz!
Eu sou feliz!...
Não vou me curar
Já não sou o único
Que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz!
E não é feliz!
Eu sou feliz!...
Deixando a prosa de lado, na primeira quinzena de julho de 2012, fiz uma viagem de cicloturismo na rota Mangaratiba – Santos. Eu, JABA um cardíaco controlado, mas um pedaleiro de alma incontrolada; Cacau, que considero um lider consensual. Um apaixonado pela bike; Vaninho, um louco em fuga e neste caso, acredito que está fugindo é dele mesmo.
Quando estas três almas se juntaram, tenho certeza que as nossas princesas das rodas imaginaram: onde fomos nos meter! Por que fornecemos as estes malucos a liberdade do pedal?
Abaixo segue alguns fatos pitorescos:
Mangaratiba / Ilha Grande
1. Motorista do buzão foi até Mangaratiba por nossa causa, pois não havia mais passageiro, um mau-humor terrível, mas depois abriu a guarda pois não tinha outro jeito e nada iria nos tirar do sério; (Mas não deixou de lado a sua impertinência dizendo que não havia ninguém em Mangaratiba e que era mentira da recepcionista de que o hotel estava cheio só para nos cobrar mais caro...talvez estivesse até com razão.)
2. Paulo, um nativo que com sua bike nos guiou e deu informações sobre as pousadas, senti que o mesmo estava nos admirando com aquela aventura;
3. Cacau colocou o relógio para despertar às 3:40 da madruga, devido ao seu trabalho de turno na Petrobrás. Detalhe: só percebeu isto depois de roupa mudada para pedalar, praticamente estava pronto; (E Vaninho sentado na beirada da cama olhando com ar aparvalhado, sem nada entender.)
4. As trilhas escolhidas em Ilha Grande não davam acesso a bike e, embora todos nos avisassem, seguimos em frente, consequência: Carregamos e empurramos na maiorias das vezes as nossas princesas; (Teimosia característica de trilheiro.)
5. O Baiano, filho de cigano e nascido no Paraná, vai entender isto. Dono de um restaurante (acredito que era de sua companheira) onde almoçamos, exibindo a sua maior glória: Todos os seus dentes superiores eram de ouro; (Implantados em Porto Seguro, dizia ele, com orgulho)
6. A volta da ilha para Mangaratiba foi surpreendente, pois era lua cheia e foi um momento único observar aquele mar ao fundo a lua sob as ilhotas com um reflexo prateado nas águas, lembro-me do Zé Ramalho na sua melodia Beira Mar capítulo 2:
Quando o dia morre e a noite avança
A brisa marinha bafeja e murmura
Nos braços divinos da santa natura
A noite soturna tristonha descansa
O mundo adormece e o mar se balança
A lua de prata começa a brilhar
Jogando reflexos dourados no ar
Rasgando o véu preto que envolve o espaço
Matando a metade do grande mormaço
Que agita as procelas na beira do mar.
A brisa marinha bafeja e murmura
Nos braços divinos da santa natura
A noite soturna tristonha descansa
O mundo adormece e o mar se balança
A lua de prata começa a brilhar
Jogando reflexos dourados no ar
Rasgando o véu preto que envolve o espaço
Matando a metade do grande mormaço
Que agita as procelas na beira do mar.
Nossa! É indescritível esta cena. Só uma bicicleta, na sua simplicidade, para me proporcionar tal situação e fazer-me sentir muito leve. Naquele momento, praticamente flutuava.
Angra dos Reis
Nos hospedamos em uma pousada na Praia Grande, um local acolhedor e calmo para aquele momento, não resisti e fui ao mar. Que delícia! Embora a água estivesse gelada, o meu interior ficou bastante grato e relaxado. Cacau me acompanhou, mas Vaninho não. Acho que não é chegado a uma água gelada.
No final da tarde, fiquei contemplando aquele cenário paradisíaco, com o mar sereno, muitas embarcações de lazer ancoradas, lembrei-me da Cláudia, de meus país e irmãos e agradeci ao meu Deus por esta chance, quantos não desejariam estar nesta situação? Não do bem prazer material, mas sim do bem estar interior, de estar em paz consigo mesmo, de sua paz de espírito. Olhei para o lado e lá estava a minha princesa, não me contive e fiz um carinho na mesma (Não estou louco, ainda.)
Paraty
Nos hospedamos em uma pousada na qual o dono era meio Surdo,
Hipertenso, Diabético, Agitado, Estressado e no fundo Louco (Mais que o
Vaninho). Esta pousada esta situada a 30 km de Paraty, no distrito de Mambucaba
antigo Perequê e pertence a Angra. De lá ficou mais viável (R$) a nossa logística
para Paraty e visitar a Flip. (Na verdade, quando foi feito o planejamento da viagem, não foi levado em consideração a Feira. Foi puro acaso encontra-la em nosso caminho.)
Indo de Angra para Paraty encontramos essa figura, Alex., indo em direção oposta. Ao ser perguntado para onde ia respondeu, simplesmente: "Para onde o nariz apontar." |
Um comentário:
Olá sou Shauan Bencks, cicloturista iniciante de São Paulo.
Parabéns pelo relato e fotos, sensacionais.....
Vou ficar atento no blog e vou ler relatos anteriores..
Se quiserem me vistar eu estou no www.shauandebicicleta.wordpress.com
abraço
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