A lista dos benefícios da atividade física está cada vez mais longa.
Por Dauzio Varella
Disponível em: http://www.drauziovarella.com.br
Praticar exercícios confere força muscular, ativa a circulação do
sangue, melhora a oxigenação do cérebro e dos demais tecidos, além de
combater a obesidade, proteger contra complicações cardiovasculares,
diabetes, Alzheimer, doença de Parkinson e diversos tipos de câncer,
como demonstram os estudos populacionais.
Apesar dessas constatações, explicar os mecanismos através dos quais
a atividade física é capaz de aprimorar tal variedade de funções
orgânicas tem sido difícil.
Em dezembro de 2011, um grupo italiano deu a primeira contribuição para esclarecer esse mistério. Em publicação na revista Autophagy, eles demonstraram que o exercício induz autofagia.
Autofagia é um mecanismo fisiológico que acontece no interior das
células, por meio do qual restos de membranas, organelas e demais
estruturas celulares envelhecidas ou deterioradas, são englobadas e
cortadas em pedaços para que seus componentes sejam reaproveitados, num
processo silencioso de renovação contínua.
Essa reciclagem está presente em organismos que vão dos fungos aos
mamíferos. Ela é fundamental para que as células possam obter a energia
necessária para exercer suas funções. Quando algum estresse aumenta
demanda de energia, a autofagia aumenta.
Os pesquisadores italianos mostraram que o estresse causado pelo
exercício físico estimula e potencializa a autofagia, na musculatura de
ratos atletas.
Em janeiro de 2012, Beth Levine, da Universidade do Texas, publicou na revista Nature uma
pesquisa que confirma e aprofunda essa relação de causa e efeito: de
fato, a autofagia está por trás dos efeitos benéficos da atividade
física.
Numa primeira fase, Levine comprovou que camundongos mantidos
naquelas rodas em que o animal anda sem sair do lugar, apresentavam
níveis mais elevados de autofagia não apenas nos músculos, mas em
diversos órgãos.
Na segunda fase, comparou um grupo de camundongos normais, com outro
formado por camundongos mutantes que tinham como característica a total
incapacidade de acelerar a autofagia em resposta ao estresse.
Nos camundongos normais, os músculos submetidos a exercícios
extenuantes consumiram cerca de 85% da glicose obtida na alimentação.
Como consequência, os níveis de glicose e de insulina na circulação
diminuíram.
Nos mutantes, incapazes de responder com aumento da autofagia, o
estresse causado pela mesma atividade física não modificou os níveis
sanguíneos de glicose e insulina. Conclusão: a resposta da autofagia ao
estresse é responsável pelos benefícios metabólicos imediatos da
atividade física.
Para analisar os efeitos tardios, Levine engordou os dois grupos de
camundongos até desenvolverem diabetes, para depois obrigá-los a fazer
exercícios diários numa esteira rolante.
Passados dois meses, os ratos normais tinham ficado livres do
diabetes e reduzido os níveis de colesterol e triglicérides, enquanto
os mutantes continuavam diabéticos. Conclusão: o aumento da autofagia
em resposta ao estresse também é fundamental para os efeitos a longo
prazo da atividade física.
O exercício físico regular provoca adaptações duradouras na
musculatura. A principal delas ocorre nas mitocôndrias, organelas
celulares que funcionam como centrais de produção de energia, e que se
desgastam com o passar dos anos. Para melhorar seu rendimento a fim de
cobrir a demanda de energia solicitada pelo aumento da atividade
física, as mitocôndrias entram num processo de renovação que retarda o
envelhecimento.
Essas descobertas ainda não esclarecem os detalhes do papel da
atividade física na redução dos casos de câncer e doenças
neurodegenerativas.
Não explicam também por que aqueles que depois de receber o
diagnóstico e o tratamento convencional de câncer de intestino ou de
mama, resolvem andar míseros 40 minutos por dia, aumentam de 30% a 50%
suas chances de cura definitiva.
São tantos os benefícios da atividade física, leitor, que só existe
uma explicação para a vida sedentária que a maioria leva: praticar
exercícios vai contra a natureza humana. Nenhum animal adulto
desperdiça energia. Você já viu uma onça no zoológico dando um pique
para perder a barriga?