"A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

(Graciliano Ramos)



sábado, 29 de maio de 2010

AUDAX RIO - Brevet 300 e Desafio 160

O desafio e o brevet ocorrerão no dia 12 de junho de 2010 entre as cidades de Rio das Ostras, Quissamã e Campos (praia de Farol de São Tomé). Acesse o Audax-Rio para ver os mapas e as altimetrias do percurso.
Atenção para as inscrições que se encerram no dia 07/06. Veja aqui maiores informações e a ficha de inscrição.

terça-feira, 25 de maio de 2010

DESCULPAS ESFARRAPADAS


Recebi esta lista há cerca de dois anos.

10 desculpas esfarrapadas (para não se aventurar)
Marlee Palugan


Quantas vezes você, ilustre leitor e aventureiro, não ouviu todo tipo de desculpa quando convidou alguém para pedalar, correr, remar, ve o por-do-sol do alto de uma colina? Ou pior, quantas vezes você – você aí, não se faça de desentendido! - não usou uma dessas desculpas chumbregas para evitar suar a camisa?
Será que você - você aí, meu chapa, sentado no sofá, com o controle da TV em uma mão e uma lata de cerveja na outra! - não está usando exatamente uma dessas desculpas para continuar chocando? Pois vejamos.
Colecionei, ao longo dos anos, uma lista com as dez ladainhas mais populares, aquelas que parecem absolutamente indestrutíveis a olho nú - as chamadas "desculpas perfeitas"!
Sinto informar, ilustre Dr. Pijama e Pantufa, que elas são todas esfarrapadas.
Então, se você se identificar com esse texto, ou se conhecer alguém que se enquadre, mantenha-o à vista, pregue-o na geladeira, envie via e-mail ou carta-registrada, engaje-se nesta minha campanha pessoal: "Aventureiros, aventurai-vos, tirem a Bunda do Sofá e comecem a suar!"

1. Eu não tenho tempo!

Ninguém tem tempo. O tempo não pertence a ninguém. Tempo a gente faz ou desfaz dentro das nossas cabeças. Se você é daqueles que passa horas por dia na frente do computador (gastando sua vista com joguinhos, visitando site de mulher pelada - ou homem pelado, porque ninguém tem nada a ver com isso - batendo papo com amigos que você nunca viu), assiste telenovela, fala horas ao telefone, faz nove refeições por dia... Se liga! Basta trocar esse tempo perdido por aventura. No final, você não vai se arrepender.
Então, não me venha com ESSA desculpa!

2. Eu não tenho companhia!

"Meus amigos não curtem aventura!" – essa é uma desculpa que ouço direto! Fácil de resolver – troque de amigos! Não é piada. Se você começar uma atividade de aventura (pedalar, escalar, caminhar, remar, por exemplo), vai conhecer gente diferente e acabar fazendo novos amigos. Quem sabe seus velhos companheiros de Internet, suas amigas de cerveja e pizza, não se animam e vão contigo descer um rio em um bote de rafting? Se as amigas insistirem, elas podem até levar a revista Caras dentro do bote.

3. Estou sem grana!

Você já viu pedágio na curva de uma trilha? Já viu roleta flutuando num rio? E cobrador amarrado numa rocha? Eu ainda não. Aventura é uma das atividades mais baratas que existe, e quem disser o contrario merece dez chibatadas! Tem gente por aí que pensa que aventura é sinônimo de equipamento, e para caminhar em volta de uma árvore o cara compra um GPS! Fique esperto! Com um tênis velho e uma mochila remendada você já pode virar o rei do trekking! Eu já vi gente correndo provas de aventura de tênis Bamba, já vi escalador fera de Ki-chute e já perdi muita corrida de MTB para ciclista com bike de supermercado!

4. Não sei por onde começar!

Pelo começo, óbvio. Que tal começar perguntando a alguém do ramo? Que tal perguntar para mim? Ó eu aqui! Hoje em dia, com a Internet, ninguém tem o direito de dizer "eu não sabia!" – não sabia porque não quis saber! Nenhuma atividade básica de aventura exige diploma, babá, guarda-costas ou sei lá o que. Quem quiser estudar, ler profundamente a respeito, ótimo, aproveite a oportunidade. Quem não puder ou não quiser, comece seguindo quem sabe. A maioria das trilhas, rochas, rios e matas pertencem a todos nós, são propriedade pública. E o que é propriedade particular normalmente está aberto a todos, com ou sem taxa de uso, é só pedir licença, abrir a porteira e entrar. Só não se esqueça de fechar a porteira depois, se não as vacas fogem...

5. Eu não tenho carro!

Bom, se você quer fazer o Rally dos Sertões, então isso é um problema! Mas se você diz que não tem carro e, por isso, não faz trekking, não anda de bike ou não escala, então você nunca conheceu meu amigo Bill. O Bill é mountain biker das antigas que nunca teve um carro. Na verdade ele nunca comprou uma bicicleta! Ele sempre usou aquilo que os amigos emprestavam, ou cansavam de emprestar a acabavam dando de presente para ele. O cara tem um currículo com centenas de corridas em todo lugar do mundo, sempre viajando de carona. Então, faça como meu amigo Bill, e se vire!

6. Minha namorada (ou namorado) não deixa!

Já pensou em trocar de namorada ou namorado? Ou, menos radical, que tal encontrar soluções amigáveis e flexíveis? Minha mulher não pedala, por exemplo, enquanto eu pedalo até nos meus sonhos. Quando nós viajamos eu acordo bem cedo para pedalar, enquanto ela faz as coisas dela, pratica yoga, caminha, etc., eu volto antes do almoço e a gente passa o resto do dia juntos. Sem estresse. Se vamos a uma pousada, escolhemos sempre um lugar que agrade a ambos e mantemos o acordo inicial – as manhãs pertencem à bicicleta, as tardes e as noites ao casamento. O ideal é tentar incentivar o cônjuge a fazer aventura também, mas se não funcionar, basta os dois serem um pouco flexíveis para a aventura virar parte integrante do relacionamento. Ou isso ou entre num acordo: você entra com a botina nova e ele, ou ela, entra com a bunda velha!

7. Estou muito fora de forma!

Em geral essa desculpa vem acompanhada de "e não tenho tempo de treinar" ou "e não tem lugar para treinar perto da minha casa". Então, para completar, a pessoa liga a TV e faz mais um sanduíche de atum com geleia de morango. Em primeiro lugar, estar em forma não significa ter o corpo do Arnold Schwartznegger, nem correr uma maratona por semana. Caminhar ao ar-livre é um esporte de aventura que requer pouco preparo físico e qualquer um pode treinar andando pela cidade. Ah, vai dizer que você nunca pensou nisso? O Julio Fiadi, primeiro brasileiro a chegar caminhando o último grau de latitude nos dois pólos da Terra, treinava caminhando pelos bairros do Pacaembú, Perdizes e Sumaré, em São Paulo. E ele ainda arrastava dois pneus de carro amarrados à cintura, para simular o trenó que ele puxaria nos Pólo Norte e Sul!

8. Preciso do equipamento ideal!

O que você chama de "equipamento ideal"? Um veículo 4x4 Hummer? Um capacete espacial com visão noturna infravermelha, GPS, bússola digital e telefone via satélite acoplados? O Brad Pitt ou a Britney Spears carregando sua mochila? Bom, eu também quero tudo isso, mas, sinceramente, não preciso de nada disso! Pense nos escoteiros, que há anos fazem todo tipo de aventura usando o equipamento mais básico que existe. No mundo inteiro escotismo é sinônimo de escola de aventura e o material que eles mais usam ainda é a lona! Nada de Gore-tex, Cordura-plus, fibra de carbono e sei lá mais o que! Quem pode ter o melhor, que tenha; quem não pode, vai fazer aventura do mesmo jeito... Só não vai sair tão bonito na foto.

9. Acho tudo muito perigoso!

Se você mora na Suíça, em frente do lago de Genebra, então tudo é realmente muito perigoso fora do seu bairro. Mas se você vive no Brasil, então repense essa desculpa. Tem gente pegando dengue em Copacabana, sendo seqüestrado na avenida Paulista, pisando em cocô de rato no Savassi, em Belo Horizonte! Então onde está o perigo? Eu acho mais perigoso atravessar uma rua sem semáforo do que escalar a Pedra do Baú; acho mais perigoso ficar preso dentro de um carro num engarrafamento do que dormir no mato; acho mais perigoso tomar chuva na cidade grande (que é ácida e tóxica) do que me jogar numa cachoeira. O perigo está em todo o lugar, mas o maior perigo é ficar trancado dentro de casa com medo.

10. Tenho preguiça!

Ah, eu também! Todo mundo tem preguiça! Uns mais, outros demais! Mas sempre que percebo que a preguiça está ganhando o jogo, lembro do prazer que é subir uma montanha com a força das minhas pernas, chegar lá em cima e respirar o ar fresco e frio, olhar em torno e ver o mundo, sentir o cansaço dando espaço à satisfação, sentir orgulho por estar lá em cima e fazer parte de toda aquela grandeza. Depois eu sempre penso no que eu estaria fazendo se tivesse deixado a preguiça dar a palavra final... Dá vontade de rir!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

BIKE E LIVROS

Os leitores do blog devem ter percebido que há bastante tempo não é postado nada por aqui além das sugestões de livros. Pois bem, não somente a título de merecida justificativa - os meus leitores merecem -, mas também como forma de agradecimento a este grande amigo que é o Livro, passo a expor o relato a seguir.
Como já foi relatado no blog (veja aqui), em 19/08/2009 fui vítima de um acidente automobilístico que me deixou acamado por 2 meses, após os quais iniciei os tratamentos fisioterápicos e hidroterápicos. Iniciei as terapias me locomovendo na cadeira de rodas, depois de muletas e por fim já estava dirigindo, mas, após dezenas de seções e não satisfeito com o andamento do tratamento fui submetido a uma artroscopia no joelho direito e a manipulação do mesmo sob anestesia, pois eu não conseguia flexionar a perna mais do que uns 85 graus, aproximadamente. Aliás, esta foi a segunda artroscopia com manipulação. A primeira foi para a retirada de um resíduo ósseo e a segunda para "observação". Claro que tudo foi realizado com base em exames preliminares: radiografias, ressonância magnética e tomografia.
Bom, após esta segunda artroscopia-manipulação (entenda "manipulação" como a técnica de flexionar a perna do paciente sob anestisia, o que proporciona um pós-operatório extremamente doloroso) voltei de imediato às seções de fisio e hidroterapia sem, contudo, obter um resultado satisfatório o que me levou a procurar outro ortopedista para ouvir uma segunda opinião. Saí do consultório arrasado após ouvir os prognósticos, ou seja, teria que fazer uma nova artroscopia no joelho porque havia elementos que dificultavam a sua flexão: fratura da patela, extrusão do menisco, côndilo medial do fêmur lesionado, além de um dos ligamentos cruzados rompido e a tal da fibrose que causa um enrigecimento do local lesionado. E não havia garantias de que o joelho voltasse a flexionar totalmente depois da intervenção, além da possibilidade de, futuramente, eu ser brindado com uma "prótese parcial" no joelho (palavras do doutor). Só em pensar em ter que passar por nova cirurgia e, o que era pior, sem a garantia de ter os meus movimentos totalmente recuperados e a impossibilidade de pedalar e realizar as pequenas coisas do dia-a-dia...Fiquei várias noites sem conseguir dormir direito, acordando nas madrugadas, desejando somente dormir. Dormir e não acordar nunca mais!
Ah! O braço. Já estava me esquecendo dele. Sofri também uma fratura exposta no úmero direito, o que levou à instalação de uma haste metálica interna para a sua fixação e, de acordo com o segundo especialista, não era o procedimento ideal para o meu caso, pois além de não consolidar, o osso estava "com consolidação viciosa" e "pseudoartrose" conforme o laudo da radiografia, ou seja, não estava calcificado, impedindo-me de executar movimentos básicos como pentear os cabelos (tá certo que não são muitos...) ou trazer um talher à boca. Foi-me sugerido, então, a retirada da haste e colocação de placa, fixando, assim, melhor o osso. Deu pra perceber o nível da coisa?
Por indicação de um amigo fui ouvir nova opinião. Não deu outra, o prognóstico foi o mesmo e as recomendações idem, com a diferença de que este médico me recomendou um outro no Rio de Janeiro que, segundo ele, era muito experiente e tal... E por que ele não quis encarar, já que foi-me indicado como bom ortopedista? (ele é bem conceituado na cidade) Não perguntei, mas ficou claro para mim que foi por questões éticas: ele não ficou confortável em saber que eu já vinha de outro médico. De qualquer modo, agendei a visita para 4/5/2010 no Rio conforme a sugestão do doutor. Será que dá para imaginar a minha ansiedade diante desse drama? Ou será que eu é que estou sendo dramático demais?
Mas, afinal, o que tudo isso tem a ver com livros?
Em primeiro lugar gostaria de dizer que não quero ocupar o tempo do leitor com textos muito longos e, sobretudo, abordando assuntos pessoais, mas me sinto bem escrevento sobre toda a agonia pela qual passei e quero compartilhar a minha experiência, uma terrível experiência, é verdade. Mas, das piores tragédias pode-se extrair algo de positivo. Então, vamos em frente.
Acredito que não é difícil imaginar os momentos de extrema angústia de uma pessoa ativa, que pedalava para todo canto - a passeio ou não, corria, caminhava e que gostava de se vangloriar, aos 51 anos, da sua forma física. Pois bem, diante de tudo isso, fiquei muito desanimado e até depressivo em alguns momentos. Não tinha vontade de fazer nada além de ler. Não tinha vontade de sair e nem de conversar, apenas ficar em casa, sossegado. Até o blog ficou meio esquecido porque eu não tinha inspiração para pesquisar novos temas para desenvolver. Às vezes me limitava apenas a repassar assuntos encontrados na net, sem muita empolgação ou zelo.
Sempre gostei de ler e sempre considerei o livro um bom companheiro, mas nunca imaginei que um dia ele seria tão importante. Precisava ocupar a minha mente, mas não tinha paciência e nem vontade para realizar pequenas tarefas domésticas, pois me era muito dificultoso executar alguns movimentos básicos como subir e descer escadas, erguer o braço, abaixar etc. Então optava pela leitura. Nunca li tanto!
Mas, por que estou dizendo tudo isso? Porque quero mostrar que, ao adquirir o hábito da leitura, não somente estamos optando por uma excelente forma de lazer e aquisição de conhecimentos. O livro também pode ser útil como terapia - pelos menos no meu caso foi (acabo de descobrir que existe uma técnica de tratamento psicoterápico: a biblioterapia. Pensei que eu é que tinha criado.). Brincadeiras à parte, o que eu quero dizer é que não sei o que seria de mim se não fossem os livros para acupar a minha cabeça; o que antes era apenas lazer e passatempo virou terapia sem eu me dar conta. Portanto, fica aqui a minha sugestão (talvez até mesmo um apelo): incentivem os seus filhos, netos, sobrinhos, amigos e quem mais estiver junto de você a adquirir o hábito de ler. Isso serve prá você também. Como disse Monteiro Lobato, "um país se faz com homens e livros."
É claro que diante de tantas dificuldades e incertezas eu não poderia esquecer o apoio da minha família e dos amigos que, sem sombra de dúvida foram cruciais para a minha recuperação. Minha esposa chegou a comentar certo dia que nos dois meses em que permaneci acamado não houve um dia sequer que eu não recebesse visita, sem contar os inúmeros telefonemas e a festa de aniversário surpresa. Só tenho a agradecer muito a todos - só não vou citar nomes para não haver crises de ciúme. Vocês sabem como são esses pedaleiros.
Bom, agora estou ultimando os exames para realizar as cirurgias no início de julho. Enquanto isso retornarei ao trabalho após um longo período de afastamento e continuarei com as leituras.
Um abraço
Cláudio