"A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

(Graciliano Ramos)



quinta-feira, 20 de maio de 2010

BIKE E LIVROS

Os leitores do blog devem ter percebido que há bastante tempo não é postado nada por aqui além das sugestões de livros. Pois bem, não somente a título de merecida justificativa - os meus leitores merecem -, mas também como forma de agradecimento a este grande amigo que é o Livro, passo a expor o relato a seguir.
Como já foi relatado no blog (veja aqui), em 19/08/2009 fui vítima de um acidente automobilístico que me deixou acamado por 2 meses, após os quais iniciei os tratamentos fisioterápicos e hidroterápicos. Iniciei as terapias me locomovendo na cadeira de rodas, depois de muletas e por fim já estava dirigindo, mas, após dezenas de seções e não satisfeito com o andamento do tratamento fui submetido a uma artroscopia no joelho direito e a manipulação do mesmo sob anestesia, pois eu não conseguia flexionar a perna mais do que uns 85 graus, aproximadamente. Aliás, esta foi a segunda artroscopia com manipulação. A primeira foi para a retirada de um resíduo ósseo e a segunda para "observação". Claro que tudo foi realizado com base em exames preliminares: radiografias, ressonância magnética e tomografia.
Bom, após esta segunda artroscopia-manipulação (entenda "manipulação" como a técnica de flexionar a perna do paciente sob anestisia, o que proporciona um pós-operatório extremamente doloroso) voltei de imediato às seções de fisio e hidroterapia sem, contudo, obter um resultado satisfatório o que me levou a procurar outro ortopedista para ouvir uma segunda opinião. Saí do consultório arrasado após ouvir os prognósticos, ou seja, teria que fazer uma nova artroscopia no joelho porque havia elementos que dificultavam a sua flexão: fratura da patela, extrusão do menisco, côndilo medial do fêmur lesionado, além de um dos ligamentos cruzados rompido e a tal da fibrose que causa um enrigecimento do local lesionado. E não havia garantias de que o joelho voltasse a flexionar totalmente depois da intervenção, além da possibilidade de, futuramente, eu ser brindado com uma "prótese parcial" no joelho (palavras do doutor). Só em pensar em ter que passar por nova cirurgia e, o que era pior, sem a garantia de ter os meus movimentos totalmente recuperados e a impossibilidade de pedalar e realizar as pequenas coisas do dia-a-dia...Fiquei várias noites sem conseguir dormir direito, acordando nas madrugadas, desejando somente dormir. Dormir e não acordar nunca mais!
Ah! O braço. Já estava me esquecendo dele. Sofri também uma fratura exposta no úmero direito, o que levou à instalação de uma haste metálica interna para a sua fixação e, de acordo com o segundo especialista, não era o procedimento ideal para o meu caso, pois além de não consolidar, o osso estava "com consolidação viciosa" e "pseudoartrose" conforme o laudo da radiografia, ou seja, não estava calcificado, impedindo-me de executar movimentos básicos como pentear os cabelos (tá certo que não são muitos...) ou trazer um talher à boca. Foi-me sugerido, então, a retirada da haste e colocação de placa, fixando, assim, melhor o osso. Deu pra perceber o nível da coisa?
Por indicação de um amigo fui ouvir nova opinião. Não deu outra, o prognóstico foi o mesmo e as recomendações idem, com a diferença de que este médico me recomendou um outro no Rio de Janeiro que, segundo ele, era muito experiente e tal... E por que ele não quis encarar, já que foi-me indicado como bom ortopedista? (ele é bem conceituado na cidade) Não perguntei, mas ficou claro para mim que foi por questões éticas: ele não ficou confortável em saber que eu já vinha de outro médico. De qualquer modo, agendei a visita para 4/5/2010 no Rio conforme a sugestão do doutor. Será que dá para imaginar a minha ansiedade diante desse drama? Ou será que eu é que estou sendo dramático demais?
Mas, afinal, o que tudo isso tem a ver com livros?
Em primeiro lugar gostaria de dizer que não quero ocupar o tempo do leitor com textos muito longos e, sobretudo, abordando assuntos pessoais, mas me sinto bem escrevento sobre toda a agonia pela qual passei e quero compartilhar a minha experiência, uma terrível experiência, é verdade. Mas, das piores tragédias pode-se extrair algo de positivo. Então, vamos em frente.
Acredito que não é difícil imaginar os momentos de extrema angústia de uma pessoa ativa, que pedalava para todo canto - a passeio ou não, corria, caminhava e que gostava de se vangloriar, aos 51 anos, da sua forma física. Pois bem, diante de tudo isso, fiquei muito desanimado e até depressivo em alguns momentos. Não tinha vontade de fazer nada além de ler. Não tinha vontade de sair e nem de conversar, apenas ficar em casa, sossegado. Até o blog ficou meio esquecido porque eu não tinha inspiração para pesquisar novos temas para desenvolver. Às vezes me limitava apenas a repassar assuntos encontrados na net, sem muita empolgação ou zelo.
Sempre gostei de ler e sempre considerei o livro um bom companheiro, mas nunca imaginei que um dia ele seria tão importante. Precisava ocupar a minha mente, mas não tinha paciência e nem vontade para realizar pequenas tarefas domésticas, pois me era muito dificultoso executar alguns movimentos básicos como subir e descer escadas, erguer o braço, abaixar etc. Então optava pela leitura. Nunca li tanto!
Mas, por que estou dizendo tudo isso? Porque quero mostrar que, ao adquirir o hábito da leitura, não somente estamos optando por uma excelente forma de lazer e aquisição de conhecimentos. O livro também pode ser útil como terapia - pelos menos no meu caso foi (acabo de descobrir que existe uma técnica de tratamento psicoterápico: a biblioterapia. Pensei que eu é que tinha criado.). Brincadeiras à parte, o que eu quero dizer é que não sei o que seria de mim se não fossem os livros para acupar a minha cabeça; o que antes era apenas lazer e passatempo virou terapia sem eu me dar conta. Portanto, fica aqui a minha sugestão (talvez até mesmo um apelo): incentivem os seus filhos, netos, sobrinhos, amigos e quem mais estiver junto de você a adquirir o hábito de ler. Isso serve prá você também. Como disse Monteiro Lobato, "um país se faz com homens e livros."
É claro que diante de tantas dificuldades e incertezas eu não poderia esquecer o apoio da minha família e dos amigos que, sem sombra de dúvida foram cruciais para a minha recuperação. Minha esposa chegou a comentar certo dia que nos dois meses em que permaneci acamado não houve um dia sequer que eu não recebesse visita, sem contar os inúmeros telefonemas e a festa de aniversário surpresa. Só tenho a agradecer muito a todos - só não vou citar nomes para não haver crises de ciúme. Vocês sabem como são esses pedaleiros.
Bom, agora estou ultimando os exames para realizar as cirurgias no início de julho. Enquanto isso retornarei ao trabalho após um longo período de afastamento e continuarei com as leituras.
Um abraço
Cláudio

2 comentários:

Claudia disse...

Um amigo ciclista me sugeriu o seu blog simplesmente pq temos em comum a leitura. Interessante os títulos que postou... li vários deles e defendo a mesma bandeira: as letras salvam!!! Parabéns!

Bike Sem Limites disse...

Obrigado, Cláudia.
Que bom que você gostou. Continue nos visitando. Mande críticas e sugestões.
Um abraço e boa sorte.