"A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

(Graciliano Ramos)



quarta-feira, 29 de outubro de 2008

ENTREVISTA – HELINHO

Foi durante o Iron Biker/2008, em Ouro Preto/MG, onde obteve a 3ª colocação na sua categoria, que conheci essa figura fantástica. Capixaba de Anchieta, casado e pai de três filhos, Welington Antônio Cavalcante, conhecido também como Helinho ou Perninha, como preferem os bikers mais chegados, conta-nos um pouco da sua história e de como foi introduzido no mundo das bikes.



BSL: Há quanto tempo você começou a pedalar?
Helinho: Comecei no final de 2004 através do apoio do Secretário de Esportes da minha cidade Leonardo Fonseca que me colocou no caminho do esporte. Eu fumava duas carteiras de cigarro por dia, bebia, enfim, não tinha um estilo de vida adequado ao esporte e acabei abdicando a tudo isso por causa do ciclismo.

BSL: Antes de conhecer o ciclismo, o que você fazia?
Helinho: Eu era caminhoneiro e sempre pensava que um dia ia tombar o caminhão porque eu andava muito, tinha o pé muito pesado. No entanto, sempre que eu trocava uma idéia com Deus eu falava que se fosse para eu ficar aleijado - e era esse o termo que eu usava - eu preferiria morrer.
Eu sofri um acidente em 16 de agosto de 1996, no trevo de Barão de Cocais/MG,onde perdi a perna.

BSL: A partir daí...
Helinho: Se eu disser a você que eu vivia antes de perder a perna estarei mentindo. Foi um impacto muito grande, mas Deus me deu condições de ver pessoas sem as duas pernas, paraplégicas, tetraplégicas e foi quando eu comecei a pensar que a perda de uma perna é uma limitação, mas é uma coisa superável e me fez repensar a vida. Antes eu só pensava em ganhar dinheiro, trabalhava dia e noite, vivia na bebedeira, na cervejada, era “virado” direto. Esporte, nem pensar. Tomava “rebite” direto para aquentar noitada no caminhão. Quando conheci o esporte mudei a minha vida. Foi quando o Léo (secretário de esportes de Anchieta) me deu uma bicicleta e disse: “agora eu quero ver você parar de fumar”. A partir daí eu tomei a decisão e parei de fumar.
BSL: O que você conquistou desde então?
Helinho: Durante esses quase quatro anos de ciclismo consegui alcançar algumas coisas. Em 2006 fui o 3º colocado na Copa Internacional e vice-campeão no contra-relógio[*], em 2007 fui campeão brasileiro no contra-relógio e vice no ciclismo de estrada e tive a oportunidade de ir para a França disputar o Mundial e, na empolgação, onde a gente acaba cometendo erros, acabei caindo e ficando em 17º lugar na estrada e em 11º no contra-relógio. Em 2008 fui campeão brasileiro de estrada e vice no contra-relógio. Fui para a Cali na Colômbia disputar o Pan-americano e tentar obter índice para as Para-olimpíadas, mas perdi a vaga para Flaviano de Ouro Preto, que é um atleta muito forte e que nos representou muito bem. Havia representantes de 25 paises e acabei ficando na 4ª Colocação na estrada e em 11ª no contra-relógio, mas infelizmente não foi o suficiente.

BSL: E as suas participações no Iron Biker?
Helinho: Em 2006 foi a minha primeira participação no Iron, e como o secretário de esportes de Anchieta cursou a faculdade aqui em Ouro Preto e foi ex-morador do Purgatório (República Purgatório), ele ligou e pediu para o pessoal me hospedar. Hoje eu estou nesta competição por causa deles que são como irmãos para mim. Para este ano, consegui às pressas o dinheiro para a inscrição e não tinha onde me hospedar, mas quando o Leo ligou eles mandaram eu vir.

BSL: Hoje você vive do esporte?
Helinho: Hoje eu vivo do esporte e para o esporte graças aos amigos e à prefeitura de Anchieta que vêm me mantendo. Trabalhei numa firma por um tempo, de 7 às 11 horas, o que me permitia treinar à tarde e levava o nome dela como patrocinadora.


BSL: E como é o seu treinamento?
Helinho: Eu treino de terça a domingo e descanso na segunda. Na semana anterior ao Iron, por exemplo, fiz um treino de resistência de 190 km em 6h40min; para o contra-relógio eu faço em torno de 20 a 30 km; tenho feito também um treino de explosão, tentando pedalar 40 km o mais próximo de 1 hora. No asfalto, sem vento eu já consegui fazer em 1h5min.

BSL: Qual é o perfil dos seus principais adversários?
Helinho: São atletas de 18, 22, 27 anos e eu já estou um pouquinho velho, né?Estou com 37 anos, mas como são poucos atletas não há diferenciação quanto à idade.

BSL: Qual vai ser aproxima competição?
Helinho: Ano que vem haverá algumas provas internacionais e estou na expectativa de conseguir bons resultados.


BSL: Quando foi que você decidiu que queria pedalar a sério?
Helinho: Foi por influência de três colegas: Ivan, Noan e Leonel. Eles me colocaram em cima da bicicleta e disseram que havia o Alarido que corria o Iron Biker e tinha uma perna só e começaram a construir na minha cabeça a imagem de um para-atleta. A primeira vez que subi na bike foram três quedas logo de cara por causa da sapatilha. Para parar eu já gritava, faltando uns 10, 20 metros, “segura, segura, segura”, porque tinham que segurar a bike para eu conseguir tirar o pé. Depois fui acostumando e indo cada mais longe. Tomei gosto e hoje, se eu não pedalar pelo menos uns 30 km por dia, não fico sossegado.
BSL: Helinho, muito obrigado e parabéns mais uma vez.
Helinho: Eu é que agradeço o apoio que tenho recebido de todos, dos meus amigos, da Prefeitura de Anchieta, representada pelo secretário de esportes Leonardo Fonseca e do pessoal da República Purgatório.
Meu pai também tem sido uma pessoa maravilhosa durante todo esse tempo. Não saio para uma competição sem ligar para ele e receber a maior força. Ele me incentiva muito.

[*] No contra-relógio os ciclistas não disputam entre si a melhor colocação. Eles têm o tempo cronometrado, vencendo o atleta que fizer o percurso (normalmente distâncias mais curtas, em torno de 30 a 40 km) em menor tempo.

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