"A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

(Graciliano Ramos)



quarta-feira, 13 de julho de 2011

O mito do progresso e o amigo que não vemos

Vale a pena conferir!

Leia abaixo um artigo do procurados da república Eduardo Oliveira sobre sustentabilidade e progresso publicado no jornal online Bemviver.

O mito do progresso e o amigo que não vemos

Cada um de nós contribui sensivelmente para a destruição do ambiente e da vida

Com relação ao debate sobre preservação do meio ambiente e melhora na qualidade de vida, há algo que, segundo penso, ainda está por ser mais cruamente enfrentado. Refiro-me ao fato de que cada um de nós, sem exceção, contribuir sensivelmente para a destruição do ambiente e da vida, todo dia, desde a hora em que despertamos.
A verdade é que nosso modo de viver é destrutivo. É este o dilema contemporâneo. Tudo o que fazemos no dia a dia depende desta ou daquela tecnologia. Muitos de nós só estão vivos por conta da tecnologia farmacêutica e dá-lhe remédios, antibióticos, vacinas, anestésicos. Mas, por outro lado, só precisamos de tantos remédios porque nosso jeito de viver destruiu o habitat natural que nos separava de pestes, insetos e bactérias. Sem contar que nossos milhões de automóveis poluem o ar enquanto discutimos o efeito estufa.
A industrialização e o progresso generosamente distribuíram seus riscos mundo afora. De tal modo que já não podemos simplesmente abandonar nosso modo tecnológico de viver ao mesmo tempo em que este nosso modo tecnológico de viver destrói nossa vida, nosso mundo e nosso futuro enquanto seres humanos.

Terrível dilema que, como qualquer verdadeiro dilema, não tem exatamente uma saída sem dor, mas alternativas menos dolorosas.

Talvez uma destas alternativas seja deter os efeitos crueis do incremento tecnológico pela implementação de práticas solidárias e menos egoísticas no cotidiano. Sejamos sinceros, não viveremos mais sem algum tipo de transporte motorizado, mas podemos inventar redes de transporte que diminuam o número de carros na rua. Temos que perder o amor pelas coisas, a sede insaciável de consumo, o apego ao inútil embalado, comprado via cartão, chegando via sedex, negociado via internet.

Sim, nenhum de nós vai deixar de usar água ou celulares, mas podemos usar menos, ostentar menos!

Acredito que nenhuma sociedade do passado, enquanto simplesmente vivia seu dia a dia, planejou ou pensou no que seria dali a cem anos a vida de seus sucessores. Quem inventou a máquina a vapor decerto não previu o efeito estufa. Nossa sociedade é a primeira que, saturada de tecnologia e riscos, se vê obrigada a pensar-se e a pensar na possibilidade de auto-aniquilação da raça humana.

Talvez, devamos aniquilar antes o mito do progresso para então viver de um modo mais simples, o que, no nosso caso pode significar algo como desligar o celular e ir visitar pessoalmente um amigo!

Por Eduardo Santos de Oliveira

Procurador da República - MPF

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